Adélia de Jesus Soares é a entrevistada deste domingo

Postado em 17 de novembro de 2013

 

Adélia de Jesus Soares é advogada mestre em Direito do Consumidor. Hoje ela atua como presidente da Comissão de Defesa do Consumidor da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), presidente do Instituto de Defesa dos Direitos do Consumidor (Idecon) e como professora universitária. Seu sonho de criança era ser famosa e vivia se imaginando concedendo entrevistas e aparecendo em jornais e revistas. Se considera realizada profissionalmente e conta um pouco sobre os desafios e vitórias que coleciona na vida.

 

 

 

 

 

 

Como o Direito entrou em sua vida? 

Adélia de Jesus Soares – Sempre ouvia a minha mãe dizer que todas as pessoas deveriam conhecer seus direitos, e sofremos muito quando meu pai faleceu e fomos enroladas por um advogado. Acho que naquele momento decidi que a minha família não passaria mais por isso. E também me lembro que nas minhas relações sempre reivindiquei algo que entendi estar errado, defendia colegas de injustiças. Assim, sem perceber, fui sendo direcionada e hoje sou muito realizada, comprometida com meu trabalho e não me imagino fazendo outra coisa.

 

 

 

E o Direito do Consumidor?

Adélia – Na faculdade tive uma professora (Dra. Patricia Panisa) especialista em Direito do Consumidor com ênfase em reparação de erros médicos. Essa professora transferiu para mim a sua paixão por essa área do direito, então resolvi me especializar cada vez mais nessa área, depois fui atuar na OAB na Comissão a qual eu presido hoje e em razão desse trabalho na OAB fui convidada a dirigir o Procon – Órgão de Defesa do Consumidor, e assim fui construindo minha carreira na luta pelos direitos do consumidor.

 

 

Como vê a atuação da mulher nesta área?

Adélia – Acredito que a mulher é mais sensível a esse tema, pois é a dona de casa que vai às compras, a mulher é mais consumista, geralmente a opinião da mulher é decisiva em casa nas escolhas de compras e contratações de serviços, então ela desenvolve uma sensibilidade maior nesse tema e por consequência atua com mais determinação.

 

 

 

Sofreu preconceito atuando nesta área por ser mulher e negra?

Adélia – Na verdade o preconceito sempre existiu, e ainda existe, mas eu aprendi a conviver com ele e a me defender. Passei por diversas situações constrangedoras, mas elas não me marcaram, prefiro registrar como foi saborosa cada superação. Sempre comprovo que as portas se abrem para mim pelo perfil técnico, pelo conhecimento sólido na área que escolhi para trabalhar, assim qualquer outra discussão preconceituosa torna-se insignificante. Não gosto do posto de vítima, prefiro continuar escrevendo a história e finalizar no posto de heroína, ou seja, tentaram me discriminar pelo meu sexo, pela cor da minha pele, mas eu venci e fiquei mais forte.

 

 

 

 

 

 

Se tivesse que recomeçar o que não faria jamais?

Adélia – Na verdade não mudaria nada, olho para trás e penso que faria tudo novamente. Construí minha carreira profissional com eloquência, com paixão e determinação e atuando mais de uma década permaneço apaixonada pelo que faço. Certa vez, um professor de pós-gradução me disse: “Adélia, você não pode sofrer tanto pelos litígios de seus clientes, pois quem ganha ou perde a ação é o cliente, você apenas faz seu trabalho”, e eu nunca consegui viver esse conselho.

 

 

Quem se corrompe mais: o homem ou a mulher?

Adélia – Acredito que todos os seres humanos, independentemente do sexo, se não tiver valores muito sólidos e ainda um temor à justiça e principalmente a Deus ficará vulnerável a se corromper.

 

 

Qual a sua opinião sobre o sistema de cotas para negros?

Adélia – Sou a favor. As cotas para os negros é questão de justiça, é uma reparação de um erro (escravidão). Defendo que as cotas não devem ser permanentes, mas sim por período suficiente para equiparar negros e brancos. As cotas nada mais são do que uma ação afirmativa, assim como a fila preferencial para gestante, a isenção de impostos para deficiente físico na compra de veículos, entre tantas outras que já existem em nosso sistema, é um reconhecimento do poder público de uma diferença a qual não se extinguirá sem a intervenção estatal. Hoje, pelos dados das pesquisas acerca do assunto, imagino como se brancos e negros estivessem em uma corrida, a qual o branco já larga na frente. Eu não fui beneficiária do sistema cotas, mas ficaria muito feliz em ver a população negra obtendo essa medida de justiça.

 

 

 

JOGO RÁPIDO

 

Um lugar
Praia

 

Um cheiro
Chocolate

 

Uma cor
Amarelo

 

Um livro
Bíblia Sagrada

 

Um filme
Os Dois Filhos de Francisco

 

Uma música
Amor para recomeçar – Frejat

 

Um momento
Nascimento do meu filho

 

Um homem
Meu pai

 

Uma mulher
Minha mãe

 

Deus
TUDO

 

Fotos: Eduardo Romano

 

 

 

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