Entrevista – Mauro Vaz

Postado em 18 de abril de 2020

 

Teste positivo. Mauro Vaz é assintomático e está bem

 

 

Mauro Vaz é Diretor da Vigilância Sanitária de Suzano, Coordenador do Pronto Socorro Municipal de Suzano e também faz parte do Comitê da Pandemia. Ele foi contaminado pelo Covid-19 e não sente nenhum sintoma. Ele alerta as pessoas de maneira positiva e tranquiliza familiares e amigos.

 

 

Em função das suas funções na Saúde de Suzano, você imaginava que que poderia se contaminar no meio do caminho?

Mauro Vaz – Na verdade a gente até espera mesmo por estar na linha de frente, tanto na Vigilância Sanitária, também faço parte do Comitê da Pandemia e estou à frente do OPS era meio óbvio, mas a gente nunca espera o dia. Você vai trabalhando como eu fiz, até o dia que fiz o exame, porque já haviam algumas pessoas contaminadas do meu convívio.

 

 

Como foi descobrir que foi contaminado pelo Covid-19?

Mauro Vaz – Receber o resultado tanto positivo como negativo é muito difícil. Eu já estava ausente no contato com minha família uns 40 dias. Quando soube o resultado fiquei triste, decepcionado, porque não é legal. É como receber uma sentença, uma vez que você não sabe o que pode acontecer. Vou fazer 58 anos no dia 21 de abril. Ao longo da vida tive problemas respiratórios, uma tuberculose, três pneumonias e isso me deixou um pouco preocupado.

 

 

Mesmo sem sintomas não tem ou teve medo?

Mauro Vaz – Até o momento não tive nenhum sintoma. Nem antes dos exames. Recebi o resultado no último domingo (12) e acho que abala mais o psicológico mesmo. Nessa noite tive todos os sintomas, falta de ar, dor de garganta, achava que estava com febre, mas eu sabia que era psicológico mesmo. Eu já estava dormindo em hotel, em Mogi das Cruzes, e assim que recebi o resultado já comuniquei o hotel. Recebo a alimentação em uma mesinha que foi colocada do lado externo do quarto.

 

 

Voltará à ativa assim que se recuperar da mesma maneira de antes?

Mauro Vaz – Já estou pronto. Pelos meus cálculos fui contaminado dia 4 ou 5 de abril. Dia 22 – um dia depois do meu aniversário – eu volto para Suzano e faço um novo exame e já volto a trabalhar. Pego meu avental e máscara e volto à luta. Volto mais fortalecido, mas com os devidos cuidados porque a gente não sabe a reincidência. É muito importante que as pessoas da saúde continuem na batalha. Me contaminei trabalhando e volto porque as pessoas vão precisar de mim muito mais agora, nesse período.

 

 

O que mudou na sua vida?

Mauro Vaz – Sou muito devoto a Nossa Senhora Aparecida, à Deus. Me sinto bem tranquilo na questão religiosa. Eu sei porque vim fazer parte deste mundo. Nessas horas a gente se agarra mais na religião. Há mais de 10 anos que vou à Aparecida do Norte todo final de ano a pé. Vou para agradecer. Meus pais são devotos e aprendi com a minha família. A gente aprende que a vida é um sopro. Um vírus que a gente não consegue enxergar. Somos muito pequenos, tanto quanto o vírus.

 

 

 

Em quem devemos acreditar?

Mauro Vaz – Primeiro a gente precisa acreditar no que acontece no mundo. Ninguém pede isolamento e nem tem essa quantidade de mortes todos os dias à toa. A gente tem de acreditar no que está acontecendo e acreditar também que isso vai passar. Logo aparece uma vacina e a prevenção também vai nos ajudar. O ser humano criando esses anticorpos também vai ajudar. Acredito na ciência. A gente não pode é levar para a questão política. Não fazer disso um palanque político. É isso que está acontecendo. Estão pensando menos no ser humano e mais nas próximas eleições, tanto na esfera estadual como nacional.

 

 

O que tem a dizer para as pessoas que ainda não acreditam nisso tudo?

Mauro Vaz – Quando se tem essa quantidade de mortes – que a gente vê na TV – a morte fica banalizada. Quando vira estatística parece que fica uma coisa meio fria. A quantidade de mortes diárias nos EUA e também no Brasil as vezes não sensibiliza as pessoas. A pessoa só vai acreditar quando acontecer com ela ou com alguém próximo. A valorização então vai depender de muitas vidas e esse não é o caminho também.

 

 

Quem está mais vulnerável?

Mauro Vaz – ao meu ver nós temos três grupos de pessoas. Um no qual eu me incluo, que vai contrair o vírus, criar anticorpos e não vai sentir nada. O segundo grupo são das pessoas tem resistência, mas quando é contaminada ela sente um pouco mais. São as pessoas que sentem mais e vão para o hospital com alguns sintomas, mas o vírus não consegue chegar ao pulmão. O organismo resolve nas vias aéreas superiores e não consegue tomar conta do organismo da pessoa. Essas pessoas ficam em observação dois ou três dias e recebem alta. O vírus não conseguiu levar essa pessoa para uma situação de alta complexidade. O terceiro grupo é o mais perigoso. O terceiro grupo que é o mais perigoso. Não é só o idoso que pode se contaminar e ser levado à morte. É claro que a idade e os sintomas de doenças pré-existentes como diabetes, hipertensão e problemas cardíacos, ou outros problemas que deixam as pessoas totalmente vulneráveis. Tem também os mais jovens que já tem uma doença e não sabem e quando aparece um vírus poderoso acaba atingindo essa pessoa, que precisam dos respiradores. Quando se fala em uma quarentena tem de ter muito cuidado. Você não pode levar para casa esse vírus e contaminar as pessoas.

 

 

 

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