A carta – de Cristina Cimminiello
Postado em 10 de julho de 2017
– Você está olhando para esse envelope há exatos dez minutos. Por que não abre e acaba com esse suspense?
– Você está me vigiando? O que há com você?
– Laura eu me importo muito com você e vi quando o boy lhe entregou esse envelope. Conheço-a há tempo suficiente para saber de quem é e também que ela vai lhe trazer um grande aborrecimento.
– Não exagere Paulo, essa carta me trouxe lembranças, situações que demorei muito para compreender, que ficaram guardadas lá no fundo do meu inconsciente. E se pode- se dizer isso, no fundo do meu coração.
– Então abra, já que trouxe lembranças, talvez cure de vez as feridas.
– Talvez! Mas não vou fazê-lo aqui. Não quero você bisbilhotando a minha vida. Vou para casa e amanhã conversaremos.
No dia seguinte como de hábito, Paulo esperou por Laura na entrada do prédio em que trabalhavam. Observava-a como um cão farejador, na expectativa de encontrar alguma emoção. Vendo sua aflição, Laura perguntou:
– Paulo o que é isso? Nos conhecemos a tantos anos e você está me olhando como se eu estivesse com uma doença contagiosa. Tudo isso por curiosidade?
– Você está enganada Laura, estou preocupado com você. Sei quem mandou a carta e o quanto ele a fez sofrer. Por isso estou aqui esperando-a para saber o que ele quer agora.
Laura respirou fundo e disse calmamente:
– Explicar porque me deixou naquela noite.
– Depois de todo esse tempo? Você não vai aceitar as explicações dele vai?
– Paulo eu nem terminei de falar, o que há com você?
– Você não percebe não é? Eu estou aqui todos os dias a sua espera e você não me vê. Procuro você em todos os lugares e você não consegue me enxergar não é mesmo? Sou um idiota, com certeza você vai aceitar as explicações e recebê-lo de volta.
Laura olhava-o boquiaberta:
– Por que você nunca me falou dos seus sentimentos? Sempre me fez acreditar que não queria compromisso. Agora me acusa de não entendê-lo? Tudo por causa de uma carta que você nem sabe o que contém?
– Laura eu amo você há muito tempo. Sempre tive medo de revelar-lhe meus sentimentos por medo de ser rejeitado. Sei o quanto ele era importante para você.
– Então se eu não tivesse recebido aquela carta você jamais se declararia?
Paulo sentiu-se ruborizar e apenas sacudiu a cabeça.
– Meu Deus Paulo, quanto tempo perdido. Estamos juntos praticamente todos os dias e separados por uma dúvida sua. Você devia confiar mais em si mesmo e entender que uma carta muitas vezes serve apenas para solucionar um vazio do passado. Uma situação não resolvida. Nada além disso.
– Laura me sinto um adolescente pego numa travessura. Por favor me dê uma nova chance, me permita amá-la como eu sempre sonhei.
– Com uma condição.
– Todas as que você impuser.
– Nunca mais falaremos sobre o passado.
Paulo sorriu e beijou-a ternamente. Abraçados seguiram para mais um dia de trabalho, enquanto a carta permanecia fechada dentro da bolsa de Laura.
Cristina Cimminiello