Entrevista com o ator Darlan Filé Júnior

Postado em 25 de julho de 2012

 

De uma brincadeira no trem surgiu um grupo de teatro e as experiências no palco o levaram para fora do país. Depois de deixar a Troupe Parabolandos, Darlan Filé Júnior surge no cenário teatral suzanense com os FDP – Filhos da Pátria, que tem como pano de fundo a comédia.
 

Seu sonho de criança era ser ator?

Darlan Filé Júnior – Na verdade eu sempre quis ser artista, não sabia se seria ator, músico, escritor, no entanto me enveredei pelos três cantos, acabei sendo mais feliz com o ato por conta do meu trabalho de ator e a escrita com o meu blog do que com a música, mas componho algumas coisas e já tive muitas bandas. Toquei em festivais grandes, tenho um projeto que envolve a música que é “A Caixa”. O bacana é que hoje minha filha sem querer tem os mesmo traços e a mesma veia para arte, e ela com certeza vai ser mais feliz do que eu no quesito.

 

O que te levou para o teatro?

Darlan – Na escola Bartholomei do Jardim São José, uma amiga e um professor me convidaram para montar “A Pílula Falante” do Monteiro Lobato, depois que eu ganhei o prêmio de melhor música inédita do Bart Fest. Tinha 11 anos de idade e fui o único a ter coragem de apresentar uma música de própria autoria na escola. Em seguida me chamaram para a montagem. Eu fiz o Dr. Caramujo, daí não parei mais de me envolver nos eventos relacionados. Depois mudei para o Raul Brasil onde comecei a montagem de mais algumas peças como “Só o Faraó tem Alma” e “A Virgem Morta” com o Grupo Fabulatores, acabou que eu não atuei em nenhuma, mas os processos me fizeram muito bem, e me deram experiência demais por trabalhar com gente que já havia participado dos festivais estudantis.

 

Quem te inspira? Brecht? Stanislavisk?

Darlan – Stanislavisk com certeza, por que foi dele que mais me aproximei e consequentemente da técnica e tudo. As direções tanto das peças quanto dos curtas feitos, eram baseados na impressão dele sobre a interpretação.

 

Você foi um dos fundadores do Troupe Parabolandos. Como aconteceu?

Darlan – (Risos) História engraçada essa, o Rafa Marcondes havia me convidado para a produção de uma cantata de Natal em uma igreja, e indo fazer um show no Copam começamos a ensaiar o texto dentro do trem com os personagens Delartes, ao final do ensaio passamos um boné velho só de brincadeira e conseguimos pagar o figurino de praticamente a peça toda. Neste momento a Troupe passou a existir, montamos uma peça chamada “Cora & Ção” em 2005 e no ano seguinte fomos convidados a participar do Coletivo Cênico de Suzano com mais outros 14 grupos da cidade como Os Contadores de Mentira e o Teatro da Neura depois da estreia da febre “O Manicômio” a Troupe não parou mais.

 

Porque deixou a troupe?

Darlan – Tive vários motivos para deixar a Troupe. Um deles foi a falta de tempo para me aplicar a outras coisas como no futuro acadêmico e outras diferenças naturais que acabam acontecendo entre as pessoas.

 

Viveu fora do Brasil durante um tempo. Como foi?

Darlan – Cara, viver fora de casa é esquisito, é, ao mesmo tempo assustador e maravilhoso. As pessoas ficam curiosíssimas ao seu respeito, a respeito da sua cultura, a respeito da sua família e claro, a respeito de “como se diz tal coisa” em português. Muita gente pensa que a barreira linguística
é a maior de todas, eu discordo completamente disso, a barreira culinária é muito maior… (risos)

 

Onde levou sua arte? 

Darlan – Minha arte me levou para longe, bem longe, eu estive no Chile e no Uruguay. Cheguei lá através, primeiramente de Deus e de grandes amigos e depois por conta do trabalho que realizava junto a uma frente missionária da qual eu fazia parte, onde falamos dentre outras coisas sobre a relação da Arte e da Religião, sem aquelas aversões tanto seculares quanto dogmáticas a respeito das duas.

 

Você está à frente dos FDP – os Filhos da Pátria. Fale um pouco disso.

Darlan – Poxa, era para ser surpresa (risos). Bem na verdade eu e o Henrique Lemos estamos conduzindo isso. Os FDP é um projeto feito para fazer comédia, para fazer o povo rir mesmo, com as críticas ácidas que só a comédia possibilita e traz até humor gratuito, que muita gente julga e diz desnecessário. Os FDP além de um trabalho danado é feito para se divertir. É um grupo, um catado de gente.

 

Como surgiu os FDP?

Darlan – Os FDP surgiu de amigos conversando, assim como são todos os amigos conversando (risos). Surgiu da ideia de fazer a comédia pela comédia mesmo, e nossa intenção é atuar tanto no teatro (espaço físico) como também e principalmente em bares e botecos, já que estamos formatando o show/espetáculo em esquetes.
É difícil conseguir apoio?

 

Quem apóia a arte hoje em Suzano?

Darlan – É difícil quando se está começando, mas quando tem gente que conhece a sua carreira algumas portas se abrem, afinal foram seis anos trabalhando em muitos lugares com muita gente. Em Suzano nós vivemos uma primavera nas artes, onde tivemos incentivo de todos os lados, com um dos maiores orçamentos do país no setor alcançado pela gestão cultural. Alguns artistas foram mais favorecidos do que outros, não desmerecidamente porque trabalharam muito duro por tudo. Mas, além dos artistas que apóiam a própria arte, tem muita gente interessada neste momento. A gestão atual apóia muito e sempre apoiou, mas é difícil citar nomes a esta altura do campeonato sem parecer partidário ou militante. (risos)

 

Você vive da arte? 

Darlan – Sim e não, ela me move, me motiva, mas atualmente não é minha exclusividade. Eu trabalho hoje com análise de mídias sociais e comunicação, o que muita gente pensa que é diretamente arte, e tento conciliar meu tempo entre isso e aquilo na medida certa. Às vezes uma coisa te rouba mais que outra, mas no final tudo dá certo. Se não dá certo é por que não é o final ainda.

 

Onde pretende chegar com sua arte?

Darlan – Poxa, onde ela me levar. Eu tenho meus anseios aqui, de pegar o bonde que o cinema nacional está vivendo agora, mas quero deixar os outros projetos bem sólidos. A verdade é que a gente sonha, mas nunca tem certeza de onde isso vai dar.

 

Fotos: Eduardo Romano

 

 

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