Entrevista com Suami Paula de Azevedo
Postado em 28 de agosto de 2012
É formado em direito (PUC-SP/UBC), letras (Bacharelado – Sorbonne/França e Licenciatura – USP), e pedagogia, (FCLRP). Possui os seguintes títulos acadêmicos: Mestrado e Diploma de Doutorado, em Linguística (Sorbonne) e outro Mestrado em Semiótica (UBC). Autor dos livros “Suzano Estrada Real”, “O Povo Mirambava” e “Retratos de Suzano”, “Páginas e Paisagens”, “Escapando das Brumas da Manhã”, “Pelo Caminho com o Vento” e “Palavras à Poesia”/“Sobre a Pele” e “Aprendiz de Encantamento” (pré-lançamento). Na área de educação: “Ética Profissional no Magistério” / “Legislação para Educadores”, e “Gerar Educação”. Em Estudos Literários – “Rigorosa Arquitetura” (França, Brasil e Portugal). Em Semiótica – “Estudos Semióticos” e “Questões de Política Cultural”. Com edições restritas ele tem – “História de Ferraz de Vasconcelos”, “A Santa Casa de Misericórdia de Suzano”, “A Gestão Educacional – do Sistema à Sala de Aula” e “Breve Cronologia da Literatura Brasileira”. Nos anos 70 teve que deixar o Brasil por combater a ditadura militar. Casou-se com a Cristiane Domschke e foram para a Europa (França).
Como surgiu a ideia do livro Questões de Políticas Culturais?
Suami Paula de Azevedo – Quem trabalha na área de Cultura, faz curso para saber sobre políticas públicas e gestão da área. Fiz esse curso, que propus aqui para a Secretaria de Estado da Cultura. No Governo Montoro, que foi meu professor na PUC, fui chamado para dar esse curso no estado (1983). De lá aqui desenvolvi ideias a respeito em cursos e palestras. Em 1977, quando voltei ao Brasil, ajudei a estruturar a Biblioteca Municipal de Suzano (que não havia) na primeira administração de Estevam Galvão. Estabeleci alguns planos na área. Reuni responsáveis por cultura da região, da Grande São Paulo, e de várias partes do estado, em Suzano (o atual prefeito de Ribeirão Pires, Clovis Volpi, participou). Intercambiávamos ações. Até que o secretário de Estado (Max Feffer) me chamou para fazermos algo em conjunto. Mas tive de deixar a prefeitura por razões econômicas, lecionava em faculdades, já tinha um filho (Rodrigo) e ia receber uma nova filha (Juliana). Algo disso está reunido neste livro. Também porque ainda se discute a razão da ação cultural não resultar, o mesmo de há 40 anos. Ainda não se forma agentes culturais (gestores, animadores, produtores) e, principalmente, público. Sem isso não há políticas públicas consequentes, só se faz ações publicas “eventuais”, em cima de eventos, sem continuidade. E isso pode ser melhorado.
Como vê a cultura na cidade?
Suami – Suzano não foge à regra nacional. Nos últimos anos houve investimento em espaços e ações tópicas. Falta ainda em formação e em fatores de continuidade. Com o enorme empobrecimento da sociedade suzanense, com baixa formação e com um desemprego em nível da Espanha de hoje em crise, a demanda por ação cultural pode resultar somente nos produtos de consumo impostos pela indústria cultural, das mídias, que só cobra retorno em dinheiro. A nossa classe média nada cobra aqui, talvez sinta não ser ouvida, e vai a outros locais, São Paulo, Mogi etc. Há bem mais por fazer.
Porque a cultura ainda não tem o devido valor?
Suami – A ação cultural, especialmente a pública, muitas vezes é considerada um marketing para governantes. Ou ficam nos eventos de cultura pop ou é tida como coisa de elite ou coisa ideológica. Se começarmos a trabalhar desde a formação das crianças com as artes e a história estabeleceremos a base para a formação de futuros artistas e, principalmente, público, para as artes e as manifestações culturais em geral. E, claro, sem bons gestores a coisa quase sempre fica aquém do necessário ou até do esperado por alguns. Se isso não for ensinado, não será aprendido, não será assumido, não será demandado.
A Maçonaria foi um mistério durante décadas. Por quê?
Suami – A Maçonaria é uma Ordem muito antiga, desde os construtores de templo da Antiguidade e Ordens de Cavalaria Medievais. “maçom” vem do francês, significa pedreiro. Foi muito perseguida, veja-se a Inquisição, o Nazismo. Ela sempre lutou por três princípios, Liberdade, Igualdade e Fraternidade, para que os homens fossem livres, pudessem escolher, se sentissem iguais, sem preconceitos, com direitos e deveres, se solidarizassem, colaborassem como irmãos. Os autoritários não gostam disso. Precisou esconder-se. Mas hoje, não existem mais organizações secretas, a internet mostra tudo, a Maçonaria é apenas discreta. Por vezes há reuniões públicas em Loja.
Em Suzano são cerca de 120 maçons. Qual é a sua missão?
Suami – A Maçonaria é uma grande escola. Ela busca tornar a humanidade melhor. Os maçons reúnem-se para estudar, todos os assuntos, o que possa melhorar as condições ao ser humano. Ela estuda da astrologia à astronomia, da física à metafísica, a política como a diplomacia. Os locais onde se reúnem como no tempo dos aprendizes ou mestres construtores de templo são chamados de oficinas, as Lojas. No mundo os maçons atuam em diversas áreas, de modo discreto. Eles fizeram a independência americana, a Revolução Francesa. No Brasil os maçons lideraram a nossa independência, a Abolição da Escravatura e a Proclamação da República. Os maçons são escolhidos entre homens que realizam na sociedade, que mostram querer saber mais e fazer mais. Assim, não importa o número, importa, sim, a qualidade da atitude deles.
Fale do Instituto Maçônico de Cultura “Acácia Dourada”.
Suami – Aqui, modestamente, maçons propuseram a constituição de uma instituição que pudesse atender situações de demanda nas áreas de cultura, educação, saúde, por exemplo. Esse posicionamento visa contribuir para melhorar as condições da gente da cidade que precisa, sob vários aspectos, de resultados concretos nessas áreas. A “Acácia” vai buscar recursos para as atividades que finalmente se propuser. E este livro “Questões de Política Cultural”, que agora cedemos os direitos autorais, tem na sua venda um meio para alcançar recursos na sua pretensão.
Como professor e diretor, acredita que a educação pode melhorar?
Suami – Tenho essa convicção. No sábado, 1º de setembro, a Escola Estadual Dr. Morato de Oliveira, que dirijo desde 1998, completa 50 anos de fundação, sendo criada como 3º Grupo Escolar de Suzano, na Vila Amorim. Ao assumir, já lecionava Gestão Educacional, tendo passado por todos os cargos de magistério da rede estadual, sabia que aquela era uma escola pública em situação precária, com pessoal em baixa autoestima, sem bons resultados, fisicamente frágil, pichada gravemente. Propus um projeto, nada radical e com o tempo fomos chegando a bons aproveitamentos dos alunos. Há dez anos ela tem os melhores resultados da cidade e do Alto Tietê. Só queria demonstrar que com uma boa gestão democrática participativa, uma boa equipe e uma liderança positiva, sob um projeto pedagógico objetivo e apoio da comunidade, qualquer escola pública pode chegar aos melhores resultados. Conseguimos. Foi reconhecido pelo Laboratório de Gestão Educacional, da UNICAMP, e exposto como estudo de caso num mestrado que desenvolvemos. Precisamos claro, preparar os gestores educacionais, os professores e funcionários, como de mais autonomia escolar: administrativa, financeira e pedagógica.
Fale dos seus livros.
Suami – Tenho orgulho de ter publicado os primeiros estudos históricos de Suzano. Nossa gente precisa saber dessa história. Tenho livros ainda inéditos em várias áreas, mas devagar, vou publicá-los. Para setembro gostaria de lançar meu livro de poesia mais arrojado, sofisticado e simples: “Aprendiz de Encantamento – 101 Olhares Poéticos”, para o qual ainda procuro patrocínio (apoio cultural). Será de alta qualidade gráfica, papel couchet, ilustrado pelo artista da fotografia Carlos Magno. Este espaço aqui já pode me ajudar muito. Tem gente que quer qualidade na região. Em outubro, se tudo correr bem publico um livro universitário, “Estudos Semióticos”, em homenagem ao falecido amigo e mestre semioticista brasileiro Cidmar Teodoro Pais. Se encontrar apoio gostaria de publicar um livro com crônicas desses 30 anos no DS.
E a Mirambava Editora? Qualquer um pode ter um livro editado por ela?
Suami – Exatamente, é uma editora de demanda. A pessoa contrata os nossos serviços e produzimos graficamente o livro para ela, com registro autoral, código de barras (ISBN), revisão etc. Ela será dona do seu livro, o que vender é inteiramente dela. Numa editora comum o autor cede os direitos e o que vender é da editora que define o que vai pagar ao autor. Estamos à disposição dos autores para qualquer pedido de orçamento (suamiazevedo@uol.com.br).
Qual o seu próximo projeto?
Suami – Tenho muitos projetos. Sempre fui cheio de sonhos, você sabe disso, e busco realizá-los. Já me aposentei da universidade e no ano que vem poderei me aposentar da educação básica. Como artista devo me dedicar mais à poesia, que me deu felicidades. Lembro de você presente quando recebi o 1º lugar do maior prêmio do Estado de São Paulo, o Mapa Cultural de Poesia em 1996. Quero escrever mais poemas. Quero gravar a minha leitura de poemas. Quero fazer mais palestras para todos os públicos. Enfim, gostaria também, claro, de contribuir e ver a minha Suzano revalorizada, que seu próximo prefeito investisse, especialmente, no conhecimento da história da cidade. Sem isso não se terá um povo que conheça, ame, respeite e preserve a cidade.
JOGO RÁPIDO
Um lugar
Suzano
Um filme
“Meia Noite em Paris”
Uma música
“Força Estranha”
Um momento
Nascimentos (filhos Rodrigo, na França, e Juliana, em Suzano)
Deus
Superioridade
Família
Fundamento
Uma mulher
Cristiane (esposa)
Um homem
Papai (José Ribamar de Azevedo)
Fotos: Eduardo Romano