Jairo Pereira é o entrevistado deste domingo.

Postado em 23 de novembro de 2014

 

Valeu a pena atuar como modelo e garoto propaganda durante tantos anos?

Jairo Pereira – Comecei artisticamente no Tumc de Adamilton Andreucci em Mogi das Cruzes, fazendo teatro amador e na sequência vieram as campanhas publicitárias, um mundo que sequer imaginava conhecer, foram experiências lindas, aprendi muito, conheci pessoas incríveis, sou grato por essa trajetória.

 

Você coleciona grandes empresas que trabalhou como modelo. Você se considera uma exceção no mercado?

Jairo – Infelizmente sim, e para compreender isso basta ligar a TV e ver quantos pretos estão protagonizando comerciais, novelas e revistas em relação ao branco. Estamos falando de um país onde 53% da população se declarou Negra e Parda, sendo assim, justiça e igualdade seria a mídia encarar nossa negritude. O negro foi ensinado que suas origens são feias, seus traços, cultura, ancestralidade por isso a importância das ações afirmativas e a mídia brasileira obrigatoriamente deveria se atentar e se posicionar na reconstrução desta imagem, sem clichês, sem piadas, sem estereótipos.

 

É também ator e cantor. Quem fala mais alto? Porque?

Jairo – Ser artista é o que fala mais alto, sou uma pessoa inquieta, em ação e pensamentos, a válvula de escape inicial foi o teatro mas muitas expressões me traduzem, a música, a dança, a escrita, a tecnologia, todas essas gritam em mim, mas a cada momento me apaixono por uma nova maneira de ser arte.

 

Você comanda o Diário Preto. Fale um pouco dele.

Jairo – Diário Preto surgiu em 2011, quando senti falta de pessoas que falavam sobre o racismo na internet, de forma direta, em vídeo blogs, e ao cobrar essa atitude de pessoas conhecidas na mídia, me perguntei:- Cara, porque você não para de cobrar dos outros aquilo que você mesmo pode fazer? E de lá pra cá, são mais de 70 vídeos, vários textos, derrubei vários canais racistas e preconceituosos na internet, realizei algumas palestras e intervenções. Tudo sem patrocínio, de forma independente, na raça. E posso dizer que sou feliz pelas conquistas.

 

E o Aláfia? Por onde tem andado?

Jairo – Feito o velho dito: Anda de vento em popa. Estamos num momento próspero, muitos shows, tivemos o prazer de tocar com Elza Soares e Criolo na homenagem a Chico Buarque no Ibirapuera para 40 mil pessoas, lançamos nosso disco de vinil no Sesc Pompeia num show lotado. Fomos a Juazeiro do Norte, Goiás, Cuba, Rio de Janeiro, Florianópolis, fora os shows em São Paulo que vão do Capão Redondo, passando por São Mateus, e caindo na Vila Madalena. Já estamos pensando o próximo disco e vem surpresas boas pela frente.

 

Você acredita mesmo que ainda existe o preconceito?

Jairo – Durante quase 400 anos o povo negro foi escravizado. Há cerca de 120 anos a escravidão foi abolida, começamos a ser escolarizados da década de 30, 77% dos jovens mortos no Brasil de hoje são negros, a própria Federação de Medicina assumiu existir racismo na área da Saúde. Morrem mais mulheres pretas do que brancas por conta do atendimento. Nosso primeiro juiz negro apareceu agora, invisibilizar o racismo, nega-lo, é compactuar com a existência do mesmo, precisamos acordar, e lutar pela igualdade. Porque nas passeatas contra o racismo só vão os pretos em maioria? O racismo é um problema de todos, mais infelizmente por conta da alienação diária, é um problema de minorias, coisa que de minoria nada tem.

 

O que temos para comemorar no Dia da Consciência Negra?

Jairo – Não vejo como comemorar vivendo num cenário de tamanha exclusão. Zumbi ainda luta contra os Domingues Jorge Velhos, fugindo dos cativeiros, formando quilombos, todos os dias nos diversos cantos desse país. Mais do que festa é momento de reforçar a luta. De se entender branco num país racista, de se entender preto como coletivo excluído, buscarmos igualdade para que um dia exista a fictícia “democracia racial” que Gilberto Freire em devaneio afirmou existir.
JOGO RÁPIDO

Um lugar – Suzano
Um cheiro – Chuva
Uma cor – Preta
Um livro – Drama para Negros Prólogo para Brancos – Abdias do Nascimento
Um filme – 12 anos de Escravidão
Uma música – Voz Ativa – Racionais
Um momento – Angola
Um homem – Pai
Uma mulher – Mãe
Deus – Mais em nós

 

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