Luciana Watanabe é a entrevistada deste domingo

Postado em 20 de julho de 2014

 

Como iniciou sua trajetória no mundo do esporte?

Luciana Watanabe – Sempre adorei esportes, na escola participava de tudo: vôlei, basquete, handebol, xadrez e dama. Com 11 anos entrei na academia de Judô Terazaki e comecei a lutar. Gostei de competir e assim me dediquei bastante ao esporte. Aos 15 fui para a Acadêmia Servidores em Mogi das Cruzes e lá conheci o Sumô e me chamaram para participar do Campeonato Brasileiro. Acabei me classificando em 3° lugar e na seletiva posterior fui selecionada para representar o Brasil.

 

Como o sumô entrou na sua vida?

Luciana – O sumô entrou na minha vida primeiramente como uma brincadeira, nos treinos, onde eu e meus amigos lutávamos e todos se divertiam, e nós aprendíamos noção de espaço, mas quando passei a fazer parte da Seleção Brasileira de Sumô, fui fazer treinamento em Tupã e posteriormente em São Paulo, no qual aprendi o que realmente era o esporte, rico de valores e cultura, assim me apaixonei e me dediquei ainda mais, e isso acabou mudando o rumo da minha vida, pois através do sumô melhorei em diversos aspectos: físicos, me tornando mais forte principalmente nas pernas, emocional me deixando paciente e decidida nos momentos necessários. Com isso ganhei diversas vezes o Campeonato Brasileiro, o qual me classificou em diversas competições Internacionais, como Sul-americanos, Mundiais, World Games e Combat Games e acabei conhecendo o mundo, ampliando meus conhecimentos culturais e relacionamentos sociais com vários novos amigos e encontrei o grande amor da minha vida “Taka” meu noivo, também lutador de Sumô.

 

Como a mulher é vista neste meio esportivo, uma vez que não temos muito conhecimento da participação de mulheres neste esporte?

Luciana – Me considero uma das primeiras lutadoras de Sumô amador do mundo. Participei do 1° Campeonato Mundial de Sumô Feminino que ocorreu no Japão em 2001, e a nova categoria veio com a ideia de transformar o Sumô num esporte Olímpico, assim, além das mulheres também incluíram a divisão por pesos leve, médio e pesado. O esporte apesar de milenar é visto com vários preconceitos, tanto para homens quanto para mulheres, principalmente porque quando falamos as pessoas associam a imagem do lutador profissional, esse que só existe no Japão, são apenas homens, usam somente o “mawashi”e não há divisão por peso, por isso são lutadores grandes e fortes, e não são exatamente gordos como as pessoas acreditam.

 

Sofreu alguma discriminação?

Luciana – Sempre que falo que pratico Sumô dão risadinhas, fazem, às vezes, pouco caso do esporte ou perguntam: “Não é esporte de gordos?”, “Que roupa você usa?”, mas a medida que explico as pessoas ficam interessadas e depois que conhecem o esporte costumam gostar.

 

Quais são suas referências femininas neste meio?

Luciana – Nos Campeonatos Internacionais são as ucranianas, russas e japonesas são bem fortes. O Brasil também está bem, nos últimos mundiais, o Feminino têm sempre se classificado, já tivemos até uma Campeã Mundial em 2005 e na categoria Pesado, a Fernanda Pereira da Costa, e eu em 2° lugar no World Games 2013 em Cali, Campeonato estilo Olimpíadas de esportes não olímpicos. Minha referência internacional é o Sumotori Kaisei Ichiro (Ricardo Sugano) além de ser o único brasileiro e estar entre os 60 melhores no Sumô profissional, é um amigo que começou treinando aqui em São Paulo, e vem nos representando muito bem no Japão.

 

Ganhou vários prêmios. Fale um pouco sobre eles?

Luciana – Em 14 anos de prática de Sumô, ganhei 11 vezes o Campeonato Brasileiro na Categoria Leve, quatro vezes o Sul-americano, por quatro vezes fui 3ª colocada em Campeonatos Mundiais 2002 e 2010 na categoria por equipe, e 2010 e 2012 na Categoria Leve; e ano passado 2° lugar no World Games. Já representei o Brasil em diversos países, Japão, Polônia, Alemanha, Tailândia, Estônia, China, Taiwan, Hong Kong, Argentina, Venezuela, Colômbia e Rússia. Todos os títulos foram muito emocionantes, mas desses, três foram inesquecíveis: quando ganhei de uma mulher da categoria pesado na disputa por equipes na Polônia, em 2002; e depois quando peguei 3° lugar na minha categoria leve e a 3ª vez em Cali, no último World Games, onde a turma da Colômbia estava torcendo pelas minhas lutas e pelo Brasil, cheguei até a final.

 

Pertence a qual equipe? Onde treina?

Luciana – Pertenço a Equipe da Nova Central, que abrange a região Leste de São Paulo e interior. Hoje dou aulas em duas Escolas Municipais de Suzano, com o Projeto “Lutas como forma de Educação” e treino em São Paulo aos sábados e domingos. Há um blog que tem mais informações sobre o esporte “sumobrasileiro.blogspot.com” e mostra locais de treinos e competições.

 

E o apoio? É fácil conseguir?

Luciana – Na verdade para representar o Brasil, nada é fácil, primeiro você deve ganhar a seletiva no Brasil, o qual tem muita gente boa, depois uma fase na qual estou junto com a Seleção Brasileira de Sumô, é tentar pagar os custos dessa viagem, esse ano foram 15 atletas selecionados para participar do Campeonato Mundial que ocorrerá em Taiwan, nos dias 30 e 31 de agosto, mas a viagem é cara e três atletas desses já desistiram. Fizemos uma vaquinha pela internet, pelo www.podiobrasil.com.br. Precisávamos de 60 mil e conseguimos  quase 5 mil, então fomos para o plano b, vender camisetas em festas culturais e competições, no qual também está bem difícil, e estamos agora com o plano c, de vender rifas, além de sempre pedir para os parentes e amigos ajudarem nessa empreitada e levar projetos para as empresas, e esperar que alguma empresa possa nos ajudar. Se mesmo assim, com tanto empenho não conseguirmos pagar as despesas devemos fazer dívidas para poder ir e participar, não é sempre que temos essa oportunidade, pois o tempo passa logo, e devemos fazer isso enquanto ainda é possível ir e lutar bem.

 

E os próximos desafios?

Luciana – Os próximos desafios confirmados são: o Campeonato Brasileiro, dias 19 e 20 de julho em São Paulo; e Campeonato Mundial em Taiwan, dia 30 e 31 de agosto. Meu  objetivo é ser Campeã Mundial na categoria Leve – 65k. Sei que é uma competição forte, mas que tenho grandes chances.

 

Jogo Rápido 

Um Lugar: Novo

Um cheiro: De comida

Uma cor: Roxo

Um livro: Instigante

Um filme: Que emocione

Uma música: From this Moment

Um momento: a Vitória

Um homem: Tenho dois: meu pai e meu noivo

Uma mulher: Minha mãe

Deus: Força

 

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