Mestre Amaro é o entrevistado deste domingo

Postado em 13 de setembro de 2015

 

Você é paulistano por acaso, uma vez que sua família é baiana. Como aconteceu isso?

Amaro Caetano de Souza – Mestre Amaro – Sim sou paulistano de nascimento. Em 1962 minha Mãe veio a São Paulo, junto com meu avô, para assinar alguns documentos referentes a vendas de terras do mesmo, e ela estando grávida, mas não esperava que eu fosse nascer antes do tempo previsto, ou seja, nasci com quase oito meses, prematuro aqui em São Paulo, mas tão logo mais voltamos todos para Salvador, Bahia.

 

Como conheceu a capoeira?

Mestre Amaro – Em tempos outrora, era muito comum a população de Salvador conhecer todos os grandes segredos e mandingas da capoeira, e na nossa família todos praticavam os movimentos e os treinamentos diários eram ministrados de pai para filho, e eu venho das ancestralidades de ótimos capoeiristas, desde a época das senzalas baianas, aliás, só agradeço a Deus por isso. Pois a capoeira me fez uma pessoa do bem para com sociedade e para com próximo, com muita disciplina e discernimento no meu dia a dia, como empresário e pai de família, ou seja, me dá muito equilíbrio espiritual e psicológico nas horas certas.

 

E como a capoeira entrou para sua vida definitivamente? Quem foram seus mestres?

Mestre Amaro – Quando cheguei aqui em São Paulo, ainda no ano 1978, as dificuldades de adaptação e fator financeiro, foram pontuais, percebendo que poderia desenvolver um trabalho sociocultural com a capoeira, visando sempre a melhora de condição de vida de muitos que estavam à minha volta, ou seja, formar  cidadãos para o bem da nossa sociedade. Em julho de 1980 inauguramos a Academia Marinheiro, em parceria com meu mestre já falecido, Sr. José Pereira de Oliveira, mais conhecido no mundo da capoeira como Mestre Pantera. Tempos depois, por definição e comum acordo com meu mestre, passei a seguir meu trabalho com Academia Marinheiro, sozinho, pois segundo as próprias palavras do meu grande mestre, mesmo ainda sendo um jovem, o mesmo me julgava capaz de levar este trabalho com minhas características e princípios próprios.

 

Este ano você comemora 35 anos de fundação da Academia Marinheiro. Pensava em chegar nisso tudo?

Mestre Amaro – Para ser sincero não, pois foram muitas barreiras e preconceitos no inicio, mas nossa fé em Deus sempre nos passou certeza e esperança que dias melhores viriam. Os primeiros 15 anos formam de imensas dificuldades. Nos dias de hoje digamos que, tudo esta se encaixando a medida do possível, digamos que estamos quase chegando aos nossos objetivos diários e constantes. Mas a cada segundo agradeço muito a Deus por me dar forças para persistir e jamais desistir da nossa batalha diária.

 

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Capoeira não é uma luta. É um jogo. Certo?

Mestre Amaro – A capoeira tem inúmeras facetas, pois ela pode se tornar luta na hora da auto defesa, pode ser considerada um jogo de movimentos corpóreo e malícias (mandinga) para se fazer uma apresentação teatral, entre companheiros e amigos, e ela retrata também toda a historia do comportamento dos negros africanos que aqui chegaram no período colonial, e trouxeram consigo comidas típicas, o candomblé, maracatu, frevo, o batuque, o samba, e nos dias atuais nós mestres estamos nos valendo desses conhecimentos culturais, para melhorar as condição e formação de vida de muitos cidadãos no seu dia a dia.

 

Paralelamente fez trabalhos para tirar jovens da marginalidade através da capoeira. Como foi isso?

Mestre Amaro – Os mestres normalmente acabam por se tornar um verdadeiro formador de opinião, em consequência, você se torna uma referência para as pessoas da comunidade em que convive, e agregada a todos esses fatores você, com grau de mestre consegue ter uma visão mais ampla da vida, e tenta incutir aos mais jovens suas experiências e vivências, e com isso acaba por conquistar a confiança e transformação de muitos que já estavam perdidos na sua trajetória de vida. Eu me sinto muito feliz por Deus me munir sempre para esta constante tarefa.

 

Você também ministra palestras motivacionais em empresas. Qual o tema dessas palestras?

Mestre Amaro – Nos dias atuais percebo que o ser humano tem se deixado levar por inúmeros fatores que o levam à depressão, e consequentemente à baixa estima pessoal, e como a capoeira me dá subterfúgio para sobrepujar esses (pequenos) fatores, eu procuro fazer uma interação durante minhas palestras, e mostrar que com fé e determinação podemos sempre vencer essas barreiras.

 

Você tem alguma metodologia diferenciada?

Mestre Amaro – Sim, desde quando iniciamos nosso trabalho 1980, sempre nos embasamos na tradição, princípios éticos e morais, com aulas práticas e teóricas sempre interagindo os alunos com mestre, no processo de aprendizagem, seja no ensino dos golpes, musica cantos, jogos e estudo da cultura popular.

 

A partir de que idade uma criança pode praticar capoeira?

Mestre Amaro – Na Marinheiro nós aceitamos alunos a partir dos oito anos de idade, pois é quando o aluno passa ter mais facilidade de assimilar os movimentos e aderir melhor os ensinamentos.

 

As artes marciais têm reconhecimento no Brasil? Ou ainda é vista com maus olhos?

Mestre Amaro – Hoje está mudando para melhor e o Brasil se tornou grande celeiro de bons atletas de todas e possíveis modalidades, e nossos governantes vem mesmo que à passos curtos ainda, melhorando o possível apoio as artes marciais.

 

Qual a finalidade do Mega Evento que promoverá hoje (13), no complexo Poliesportivo Paulo Portela?

Mestre Amaro – Em primeiro lugar quero retribuir tudo que me foi possível construir ao longo dessa longa trajetória da minha carreira, pois Deus, sempre iluminou meus caminhos, vamos comemorar os 35 Anos da Academia Marinheiro, e ao mesmo tempo estaremos arrecadando alimentos não perecíveis, os quais serão destinados a entidades. Conto com todo o público e meus irmãos capoeiristas de todo Brasil que aqui estarão se apresentando para esse Mega Evento, com muito axé.

 

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JOGO RÁPIDO

 

Um lugar

Minha casa

 

Um cheiro

Canela

 

Uma cor

Azul

 

Um livro

Diário de Anne Frank

 

Uma música

What’s going on – Marvin Gay

 

Um momento

Nascimento do meu filho Michel

 

Um homem

Meu pai

 

Uma Mulher

Minha mãe

 

Deus

O sentido de toda existência

 

 

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