O Dia dos Namorados

Postado em 12 de junho de 2014

 

Namorados

 

– Otavio você ainda está aí? O pessoal já foi para o Bar do Joca.

– Cláudio hoje eu não vou.

– Por que não? Hoje é sexta-feira, dia da nossa cerveja!

– Sim eu sei, mas hoje é o dia dos namorados, vou para casa jantar com a Luiza. Comprei-lhe um presente e não vejo a hora de entrega-lo.

– Dia dos namorados? Mas vocês estão casados há quanto tempo? Uns quinze anos?

– Dezesseis meu caro e essa data eu faço questão de comemorar.

– Bobagem, eu vou manter a minha rotina. Vou tomar minha cerveja com a turma e mais tarde vou para casa.

– Faça como quiser. Você e a Julia não namoram mais?

– Que namoro o quê, depois de dezoito anos de casados isso não existe mais.

– Você está enganado, tenho certeza que a Julia ficaria feliz se você chegasse mais cedo hoje levando apenas uma rosa de presente para ela. Bem tenho que ir. Bom fim de semana.

– Pra você também.

Depois que Otávio saiu, Cláudio começou a recordar o início de seu namoro com Julia. O lugar onde se conheceram, os encontros furtivos, porque os pais dela não queriam o namoro. Levaram dois anos para convencê-los a aceita-lo como genro. Afinal, ele tinha um bom emprego, era formado em engenharia e trabalhava muito para garantir o futuro da família que pretendia ter.

Um ano depois do casamento nasceu Rafael, seu orgulho, estava fazendo cursinho para faculdade de engenharia. Quando pensava na filha, que nasceu um ano depois, um sorriso iluminou seu rosto. Carmem era uma menina meiga, estudiosa, queria estudar medicina.

O terceiro filho, Alexandre, não havia sido programado, nasceu cinco anos depois. Ele tinha dificuldade em aprender, depois de muitos exames médicos  descobriram que era disléxico. Foram aconselhados a dar-lhe muita atenção e carinho, com o tempo e o apoio da  família ele conseguiria acompanhar os estudos com as crianças da idade dele.

Cláudio entrou no carro, mas, não sentiu ânimo de ir encontrar-se com os amigos. A conversa com Otávio e as lembranças da esposa e dos filhos o fez mudar de ideia e ir para casa. Resolveu comprar flores para a esposa e chegar em casa mais cedo para jantar com os filhos.

Chegando em casa estranhou o silêncio que ali reinava. Preocupado foi ascendendo às luzes e chamando pela mulher e pelos filhos. Ao entrar na cozinha deparou com um vaso onde havia cravos vermelhos e em frente a ele um cartão.

Deixou as flores em cima da mesa, pegou o cartão e leu em voz alta:

“Cláudio, eu e nossos filhos saímos para comer uma pizza.

O Alexandre conseguiu excelentes resultados nas provas e fomos comemorar.

Não o esperamos porque  sabemos que hoje tem o happy hour com a turma do escritório e provavelmente chegaremos antes que você.

Pensei muito em você hoje e em tudo o que vivemos nesses anos.

Obrigada pelos filhos maravilhosos que você me deu.

Os cravos são pelo dia dos namorados, afinal hoje faz vinte anos que nos conhecemos.

Todo meu amor.

Julia.”

Ele releu o cartão e um sentimento misto de tristeza e saudade tomou conta dele, lágrimas rolaram pelo seu rosto. A sensação de chegar em casa e não encontrar ninguém deixou-o aflito.

Sem saber o que fazer, deixou-se ficar ali durante um bom tempo. Em sua cabeça passava o filme da sua vida e ele sentia o quanto perdera por não estar presente em momentos especiais para a família.

Pensou:

– Vou sair e procura-los, mas aonde?

Há tempos  não saia com eles, quando o convidavam para sair dizia sempre: “podem ir, eu preciso terminar um relatório”.

Enquanto experimentava o vazio que aquela situação lhe causara, ouviu vozes e o ruído da porta se abrindo. Os filhos falavam ao mesmo tempo, riam e quando o viram correram para abraça-lo.

Julia observava a cena e viu o buquê de rosas sobre a mesa, ao lado dos cravos. Alexandre foi o primeiro a falar:

– Papai você trouxe flores? São para a mamãe?

Abraçado ao filho e olhando para a esposa, Cláudio respondeu:

– São sim, hoje é o dia dos namorados e a mamãe é a minha namorada.

– Hum! – fez o filho.

Rafael e Carmem, percebendo que os pais queriam ficar sozinhos, chamaram Alexandre para jogar vídeo game. Assim que saíram, Julia aproximou-se do marido e tocando-lhe o rosto disse:

– Você lembrou!

Abraçando-a, Cláudio respondeu:

– Fui um péssimo companheiro durante todo esse tempo, você pode me perdoar?

– Perdoar o quê? Perguntou ela, olhando diretamente nos olhos do marido.

– Por todos esses anos em que não te dei sequer uma rosa no dia dos namorados. Por me esquecer do quanto desejamos nos casar e formar uma família. Por deixar você sozinha cuidando dos nossos filhos. Hoje, quando cheguei e vocês não estavam foi que me dei conta do quanto fazem falta na minha vida.

Em resposta, Julia beijou o marido demonstrando todo o amor que sentia por ele. Quando se afastaram, Cláudio segurou seu rosto e disse-lhe:

– Prometo a você que não vou mais deixa-la sozinha. Acredita em mim?

– Acredito sim, sempre acreditei. Confesso que muitas vezes fiquei triste por você não se lembrar dessa data, não por ser o dia dos namorados, mas porque foi nesse dia que começamos a namorar.

– Fui um tolo, mas não vou mais deixar que isso aconteça.

– Você está ouvindo as risadas?

– Estou, vamos nos juntar a eles?

– Vamos sim, tenho certeza que ficarão felizes por estarmos todos juntos. O tempo passa muito depressa, não devemos perder momentos tão preciosos.

Cláudio e Julia juntaram-se aos filhos e a alegria das brincadeiras contagiou a todos. Cláudio finalmente entendeu por que Otávio nunca deixou de comemorar o dia dos namorados.

Cristina Cimminiello

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