Olho seco e enxaqueca: existe uma correlação entre as duas doenças?

Postado em 15 de outubro de 2012

 

Causado por deficiência aquosa ou por evaporação acelerada da lágrima, o olho seco é a afecção ocular tratável mais comum na prática clínica oftalmológica

 

 

Os sintomas da Síndrome do Olho Seco são muito incômodos: sensação de estar com “areia nos olhos”, peso nas pálpebras, olhos vermelhos, embaçamento da visão ao fazer algum tipo de esforço visual, sensibilidade à luz… Tudo isto pode aumentar a pressão ao redor e atrás dos olhos e desencadear um outro problema muito desagradável: crises de enxaqueca. Há algum tempo, pesquisadores tentam vincular a presença da Síndrome do Olho Seco ao aparecimento das fortes dores de cabeça, que podem ser debilitantes, intensas, provocarem sensibilidade à luz e ao som e, em alguns casos, causa de uma cegueira temporária.

 

 

“Um estudo recente sobre o tema Dry Eyes and Migraines: Is There Really a Correlation?, publicado no Journal of Cornea and External Disease,  revela que a relação entre as duas moléstias pode ser bem próxima, pois uma maior frequência da doença do olho seco foi encontrada em pacientes com enxaqueca. E para estes pacientes, alguns ataques de enxaqueca podem ser agravados pela presença da Síndrome do Olho Seco”, diz o oftalmologista Virgílio Centurion, diretor do IMO, Instituto de Moléstias Oculares.

 

 

Para chegar a estas conclusões, os pesquisadores analisaram dados de 33 pacientes com enxaqueca (26 mulheres e 7 homens), encaminhados por clínicas de neurologia, e 33 (22 mulheres e 11 homens) pacientes encaminhados por clínicas de oftalmologia. Este segundo grupo de pacientes  integrava o grupo de controle, que não apresentava nenhuma doença sistêmica ou ocular, nem qualquer tipo de dor de cabeça.

 

 

Todos os 66 pacientes foram submetidos a um exame oftalmológico completo e a testes diagnósticos para olho seco, incluindo o tempo de ruptura lacrimal, teste de Schirmer com anestesia tópica, coloração com lissamina verde e uma pontuação específica para a presença de doença ocular na superfície da córnea. Os pacientes com enxaqueca foram classificados como portadores de enxaqueca com aura, enxaqueca sem aura, enxaqueca basilar e um escore de dor entre 1-4 foi determinado para cada paciente, com base no teste de Avaliação de Deficiências da Enxaqueca, elaborado pela  American Headache Society.

 

 

– Além de influenciar no aparecimento da enxaqueca, o olho seco também está relacionado a outros distúrbios visuais. A seguir, a oftalmologista Sandra Alice Falvo, que também integra o corpo clínico do IMO comenta alguns destes problemas:

 

– O olho seco pode afetar os testes realizados para a prescrição de óculos. “Então a doença deve estar sob controle – isto é, tratada adequadamente – antes de uma nova prescrição de óculos”, diz a médica;

 

– A secura ocular pode causar fotofobia (sensibilidade à luz). “Felizmente, existem muitos caminhos para tratar este problema. As opções atuais de tratamento variam de compressas mornas, colírios e lágrimas artificiais ao uso de medicamentos e dispositivos de drenagem lacrimal”, afirma Sandra Falvo;

 

– O olho seco provoca irritação na superfície da córnea, o que pode levar à redução da qualidade de visão. “Quem sofre com o problema deve consultar o oftalmologista para confirmar o diagnóstico e determinar as melhores opções de tratamento”, recomenda a oftalmologista;

 

– Olho seco ocasional pode causar visão embaçada temporária de um olho. “O desconforto pode ser superado, dentre outras medidas, com o uso de gotas de lubrificante ocular prescritas pelo oftalmologista de acordo com cada caso”, diz Sandra Falvo;

 

– Quem tem olho seco e usa lentes decontatodeve evitar as lentes de alta hidratação. “É importante a utilização de lubrificantes próprios para uso em lentes decontatodurante todo o tempo e os cuidados devem ser redobrados quanto à limpeza, desproteinização e troca das lentes, além de evitar dormir com elas”, explica a médica;

 

– Algumas cirurgias refrativas podem induzir a um olho seco temporário. “Já a indicação da cirurgia em pacientes com olho seco prévio irá depender da intensidade do quadro, do tratamento que está sendo feito e, principalmente, da etiologia do olho seco. Se a causa é a Síndrome de Sjögren, seja primária ou secundária, a cirurgia deve ser contra-indicada, assim como também é contra-indicado o transplante de córnea para pacientes que apresentam olho seco severo, sem controle”, afirma a oftalmologista;

 

– Quem utiliza computador por longos períodos pode ter os sintomas do olho seco exacerbados e o rendimento profissional comprometido;

 

– “Ambientes muito secos devido à utilização de climatização (ar condicionado) também são fatores agravantes ou desencadeadores de problemas de lubrificação ocular”, diz Sandra Alice Falvo;

 

– “As cirurgias plásticas de face, em especial das pálpebras, devem ser acompanhadas de perto. Pois, por alterarem – mesmo que temporariamente – o mecanismo do piscar, podem comprometer a lubrificação ocular”, afirma a oftalmologista do IMO.

 

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