Cleiton Xavier – um jovem e talentoso regente

Postado em 22 de junho de 2014

 

 

Tudo o que é feito com intensidade e paixão não volta vazio, sempre haverá transformação de um modo ou de outro. O valor, no entanto, está na finalidade da arte e não somente nela, de outro modo eu não estaria aqui. No mesmo peso, está a busca pela excelência da arte”.

 

 

Fotos: Tvstudio Brasl

 

Clave de Sol

 

 

Qual sua formação?

Cleiton Xavier – Em 2008 ingressei no curso superior em Música com habilitação em canto lírico na Faculdade Cantareira, em São Paulo. Hoje, meus estudos são voltados para a arte da regência coral e da musicalização.

 

Quando se interessou por música?

Cleiton – Há quem diga que o regente nasce feito. A mim nunca foi perguntado se eu gostaria de estudar música, regência ou técnica vocal. A música sempre foi vital em minha vida e não foi uma escolha, apesar de não ter histórico de músicos na família. Na minha infância e adolescência participava como solista em igrejas e em coros pela cidade. Também na adolescência, montava grupos vocais a fim de colocar em experiência os arranjos a três e quatro vozes que criava de “ouvido”. Entretanto, meu contato com a música ”de verdade” veio somente aos 19 anos, quando entendi que estudar música era admitir que se deve estudar por toda a vida.

 

Quem são seus mestres?

Cleiton – Tive a felicidade de ter sido aluno de pessoas que eram muito mais do que professores. Fui aluno de canto do premiado Mezzo Soprano Mariana Cioromila (Romênia). Aluno e amigo do tenor brasileiro Benito Maresca considerado um dos melhores tenores da história do Brasil. Também fui aluno do tenor Adriano Pinheiro, meu primeiro professor, do barítono Ary Lima e do pianista e coaching Ricardo Ballestero. Durante esse período tive também a oportunidade de ter algumas aulas como tenor Luigi Alva (Famoso Tenor Leggero peruano que cantou com Maria Callas) e com o Baixo italiano Carlo Colombara, além de Masterclasses de canto com cantores como Alícia Nafé (Mezzo soprano argentino) e o Soprano Maria Pia Piscitelli (Itália). Na área de musicalização, tenho estudado com o brasileiro radicado na Suiça, Iramar Rodrigues, todas as vezes que ele vem ao Brasil.

 

Não é muito comum entre os jovens este gosto musical. Porque canto lírico?

Cleiton – Nem sou tão jovem assim (risos). É incomum porque não conhecem. Infelizmente a música erudita no país ainda é limitada aos grandes centros, a um público específico. Entretanto existem esforços para que ela alcance as grandes massas. A própria cidade de Suzano teve no último ano duas apresentações de montagens reduzidas da ópera La Boheme de Giacomo Puccini e da ópera Carmen de Bizet. Apesar disso é frequente ver jovens de várias idades assistindo concertos na Sala São Paulo e óperas no Theatro Municipal.  Mesmo hoje acreditando que a melhor forma de se fazer ópera é no teatro, eu sou fruto de uma popularização da ópera, os “3 Tenores” (Luciano Pavarotti, Plácido Domingo e José Carreras) muito conhecidos na década de 90 e que são lembrados até hoje.

 

Você é regente da Orquestra Del Chiaro? Fale um pouco dessa experiência.

Cleiton – Sim, sou um dos regentes. Essa orquestra é conhecida por tocar em casamentos de famosos como Emerson Fittipaldi, o nadador Thiago Pereira, o jogador Ganso e o cantor Naldo, além de eventos, como a festa de aniversário de um ano do filho do jogador Neymar.

 

TESTA-Cleiton Xavier

 

Como chegou ao Coral Municipal de Suzano?

Cleiton – Eu nasci em Suzano. Morei aqui até os 20 anos de idade e me mudei para São Paulo. Acompanhei o coro Municipal de Suzano por muitos anos. Há um ano fui convidado para recomeçar um coral na cidade. Me contrataram e comecei a trabalhar. As vezes me pergunto porque as coisas acontecem, porque estou à frente desse coro e observo os relacionamentos criados por intermédio dele, como a música é instrumento para transformação de pessoas, a quantidade grande de experiência afetiva envolvida, além da dinâmica estabelecida entre coral e público. Tudo o que é feito com intensidade e paixão não volta vazio, sempre haverá transformação de um modo ou de outro. O valor, no entanto, está na finalidade da arte e não somente nela, de outro modo eu não estaria aqui. No mesmo peso, está a busca pela excelência da arte. Sempre digo aos coralistas: “não basta cantar bem, é preciso excelência”. Cada ensaio é um período intenso na busca pela perfeita afinação, pela emissão igual das vogais, pela articulação das notas no momento preciso, fusão dos timbres, pela lenta construção de uma ideia interpretativa e de uma sonoridade. Além dessa busca, cada coralista tem aula individual de técnica vocal, aula de teoria musical e solfejo além de aula de dança. Alguns já participam de concertos individuais em um repertório que abrange do Lied à ópera. Hoje o novo Coral Municipal de Suzano já é referência no canto coral em toda a Grande São Paulo. Paralelo a esse trabalho existe também a Fábrica Coral, oficina aberta a toda a comunidade, aos que não tem nenhum conhecimento musical. A oficina aborda os elementos da música, o solfejo, bem como os fundamentos da técnica de coro, desenvolvendo sonoridade e percepção em grupo.

 

Qual o repertório que executam?

Cleiton – O coro segue o formato “A capella”, tendo em seu repertório peças de compositores dos períodos renascentistas, barroco, assim como canções folclóricas, música popular brasileira e internacional, unindo o canto à dança em alguns momentos. É um grande desafio. Existe relação direta entre emissão vocal e tipo de repertório a ser interpretado. Não se canta renascença como se canta música folclórica. Da mesma forma que não se pode aceitar cantar música folclórica com vibrato excessivo como na ópera. Estar aberto à diferentes tipos de emissões para diferentes repertórios é uma das características do coro.

 

Ontem o Coral Municipal de Suzano participou de um concurso?

Cleiton – Sim, o Coral Municipal de Suzano participou do Encontro Nacional de Piracicaba, no Teatro Municipal Erotides de Campos. Um evento que acontece há oito anos e reúne convidados de todo o país.

 

Quais são os próximos passos do Coral Municipal de Suzano? Onde irão se apresentar este ano e quais festivais irão participar?

Cleiton – A ideia é formar no coral, pessoas aptas a difundirem oficinas de música pela cidade, de modo que possamos ter mais 25 novas oficinas de musicalização espalhadas pelos bairros. Em agosto estaremos no Festival Internacional de Coros de Vinhedo. Estamos nos preparativos para a gravação de um clipe até o final do ano. Não posso contar nada a respeito para não estragar a surpresa!

 

Jogo Rápido

Um lugar– Humilde

Um cheiro– Cheiro do mar

Uma cor– Azul

Um livro– Hints on Singing (Manuel Garcia)

Um filme– Camille Claudel

Uma música– L´heure Exquise (Reynaldo Hahn)

Um momento– Servir

Um homem– Jesus

Uma mulher– Luci Xavier (minha mãe)

Deus– Soberano

 

 

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